Anais do IX Encontro do CELSUL Palhoça, SC, out. 2010 Universidade do Sul de Santa Catarina TEXTOS ARGUMENTATIVOS SOB A ÓTICA SOCIODISCURSIVA JEAN-MICHEL ADAM: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES
ABSTRACT: The experiment conducted by Adam in the surrounding text types and textual genres are comprehensive enough to show many points of view while relating different lines of research linked to enunciation, and functional grammar discourse analysis. His works incorporate a wide network of concepts and theoretical basis which makes it an important source of data regarding the study of the text. Interesting definitions are related to ratings of discursive genres and sequence of which comes in response to prototypical narrative, argumentative, descriptive, dialogical and explicative. In order to view some of these aspects, this article seeks to bring some points and definitions, producing a small test with the larger goal of understanding some principles that guide the work of Adam. For this, we presented the criteria used to reach the notion of sequence and, more broadly, we intend to talk about the notion of argumentative sequence, based on his model for textual analysis. The latter, being exemplified based on the analysis of an article published in the magazine Super Interesting. Preliminary considerations pointed to the fact that the way to approach the topic by Adam proved to be an important tool for understanding aspects of texts, opinion makers and even be applied in the classroom. KEYWORDS: sequence; argumentative text; teaching; Jean-Michel Adam.
1. Introdução
As noções de Jean-Michel Adam no que envolve a lingüística textual vêm sendo
retomadas por diferentes autores atualmente. Seus conceitos são na maioria das vezes entendidos segundo as linhas de análise que o próprio autor vem se vinculando ao longo desses anos, a análise do discurso relacionada à lingüística textual e questões envolvendo a textualização. Seu material incorpora uma ampla rede de conceitos e bases teóricas o que o torna uma importante fonte de dados na produção e análise textual nos diferentes estabelecimentos de ensino. Com base nesses aspectos, estabelece algumas definições importantes e, sobretudo, traça ao trabalhar com as chamadas operações de contextualização diferentes categorias de análise segundo os elementos que estabelecem a “ligação” entre os enunciados. Em trabalho mais recentes (ADAM, 2008), o autor apresenta como a partir de uma “proposição-enunciado” – unidade textual básica – as relações de significado vão construindo unidades mais complexas, as sequências ou períodos e o plano de texto, respectivamente. Esses elementos são considerados por Adam como sendo objetos da lingüística textual, já os gêneros, por outro lado, seriam objetos da análise dos discursos, espaço de interação. Nesse contexto, o nível sequencial pode ser considerado como um dos pontos chave dos pressupostos construídos pelo autor, o qual reúne cinco sequências de base a narrativa, a argumentativa, a descritiva, a dialogal e a explicativa.
Com o objetivo de observar parte desses aspectos, pretende-se nesse trabalho trazer
alguns pontos e definições e traçar uma análise com o intuito de fazer uma pequena aproximação com o trabalho do autor. Para tanto, pretende-se abordar os critérios utilizados para chegar à noção de sequência argumentativa, apoiando-se em seu modelo para análise textual. Essa última, será exemplificada com base em matéria publicada na revista Super Interessante. Considerações preliminares apontaram para o fato de que a forma de abordagem
* Doutorando; Universidade Federal do Paraná.
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do tema por Adam demonstrou ser uma importante ferramenta para compreender o comportamento discursivo do enunciador a respeito de sua argumentação. 2. Dos argumentos à conclusão: o protótipo de sequência argumentativa de J. M. Adam
Em seu sentido mais geral, pode-se dizer que argumentar é uma estratégia discursiva
que permite lançar mão de uma tese direcionada a “um outro” com a principal função de convencimento. Ao comunicarmos, fazemos relações e buscamos pontes ou estabelecer redes de ideias, retomando informações com o intuito de construir uma representação e dividir opiniões com nosso interlocutor, provocar uma adesão ao nosso pensamento ou convencer frente ao um dado tema. Ao falar ou ao escrever, utilizamos a língua de forma a encontrar seu valor no meio sociodiscursivo em que estamos inseridos, um ambiente em que a língua não se concretiza somente com frases, mas com enunciados com valor argumentativo, ou nas palavras de Adam (1997), fazemos alusão a um mundo fictício ou real com o intuito de construir uma representação que dividirá espaço com outras opiniões sobre determinado assunto.
Segundo Adam (2004), todo enunciado carrega em si uma carga argumentativa e pode
também requerer credibilidade e aceitabilidade junto aos participantes do discurso (afirmação/conclusão). Em seu percurso, observa-se que o autor se utiliza de vários conceitos de Ducrot (1987), principalmente ao falar da sequência argumentativa, entre os quais os envolvidos na enunciação tais como locutor, enunciador, e principalmente os de frase e enunciado, retomados em Adam (2008).
A noção de topos é também um conceito discutido pelo autor ao descrever a sequencia
argumentativa. Na passagem do dado à conclusão, os topoi são mecanismos substanciais, pois dividem e trazem validade a um número infinito de situações análalogas à própria situação à qual se refere, como se pôde observar na discusão realizada acima.
Enunciados argumentativos se apóiam em um fato ou tese ou sobre outro enunciado
(argumento dado anteriormente). A argumentação é, segundo Adam (2004), uma operação extremamente utilizada no discurso, podendo assim ser confundida ou até mesmo relacionada a outras sequências. Entretanto, a sequência argumentativa é um tipo de estrutura que apresenta determinadas particularidades prototípicas que a diferenciam de sequências como a narrativa e a explicativa. Tais aspectos fazem do texto argumentativo base para artigos de jornal, revistas, discursos políticos e publicitários, meios de comunicação em que se pretende vender ou transmitir uma ideia.
Para o autor, as seqüências argumentativas evidenciam dois movimentos: demonstrar
e/ou justificar uma tese e refutar outras teses ou argumentos adversos. Em ambos os casos, parte-se de premissas em que se deve admitir determinada conclusão ou afirmação. Em outras palavras, somos tomados por trâmites argumentativos que nos fazem apresentar uma posição frente a uma tese inicial, essa posição é mediada por fatos, argumentos/provas, nesse sentido o autor traz um esquema simplificado.
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O esquema de Adam (2004) se apóia no princípio dialógico de Moeschler (1985 apud
ADAM, 2004) em que um discurso argumentativo se estabelece sempre com relação a um contradiscurso efetivo ou virtual em que defender uma determinada tese, isso o leva sempre a entrar em contradição com outras conclusões. Nesse âmbito, não se cria somente uma polêmica ao entrar em acordo ou desacordo com alguém, mas se toma posse de uma posição contra-argumental. Esse fato é uma característica fundamental da argumentação que, para esse autor, a distingue nitidamente da demonstração ou da dedução que, em um dado sistema, são irrefutáveis.
Adam (1997) propõe alguns esquemas prototípicos de sequência argumentativa
baseados em características gramaticais, pragmáticas e semânticas. Os esquemas apresentam como características centrais três aspectos: dados ou premissas, inferências ou princípios de apoio e conclusões, conceitos próximos aos apresentados por Ducrot. Para exemplificar faz referência aos enunciados:
(1) “Les hommes aiment les femmes qui ont les mains douces” e uma outra combinação (2) “La marquise a les mains douces, mais je ne l’aime pas” . Nesses enunciados é possível perceber uma contradição entre a conclusão presente na
premissa de (1) e a afirmação presente em (2). Segundo Adam (1997), a premissa estabelecida em “os homens apreciam as mulheres que têm mãos suaves” leva à conclusão que toda mulher que tem mãos suaves é apreciada pelos homens. Sendo assim, a proposição “a marquesa tem as mãos suaves” levaria de certa forma a uma conclusão semelhante em (2). No que diz respeito aos topoi, este enunciado apresenta o topos “mãos suaves, portanto, apreço dos homens” que se observado pela gradualidade se verifica: quanto mais suaves as mãos, mais apreço dos homens.
Estes exemplos marcam a existência de um princípio ou regra geral de inferência.
Entretanto, o conectivo adversativo “mas” presente em (2) traz um elemento que não se encaixa na regra geral proposta em (1), “mas eu não a amo”. Ou seja, o topos “mãos suaves, portanto, apreço do homens” não se concretiza nesse caso em que há uma particularidade específica que marca uma intenção argumentativa. Para Adam (1997), trata-se de uma particularidade das inferências que o levam a concluir que pode existir um certo número de justificativas que apóiam uma tese, mas também outras que expressam contradição, justificada ou não. Em outras palavras, uma dada premissa leva a determinada conclusão, essa conclusão
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é dada como verdade caso não houver um fato que a refute, como pode ser observado no esquema (2) em que há lugar para a restrição.
Esquema 2, baseado em Adam (1997, p.108)
Com base nos mesmos exemplos (enunciados 1 e 2), o autor apresenta outras
considerações que vão circundar o campo das restrições. A existência da segunda premissa “mas eu não a amo” que leva a um questionamento e, por consequência, a outras inferências, ou seja, o porquê da marquesa não ser amada. Nesse ponto, Adam (1997) apresenta outro esquema em que vai trabalhar com essa polaridade (apoio/refutação). Trata-se de uma tentativa de chegar a um denominador comum, ou seja, a um protótipo (Rosch, 2004), entre as várias possibilidades dentro das sequências argumentativas.
Em sua discussão, Adam (1997) não deixa de lado uma questão que apresenta como
importante desde o início de sua discussão sobre as sequências, o princípio dialógico explicitado anteriormente. Com esse princípio, apresenta a sequência argumentativa prototípica da seguinte forma:
Esquema 3, baseado em Adam (1997, p.120).
Como afirma em Adam (2004), seu esquema não está estruturado em uma ordem
linear obrigatória, a nova tese, por exemplo, pode ser formulada no início e retomada por uma conclusão que a duplica ao fim da sequência. Como exemplo para seu esquema prototípico, Adam (1997) propõe o seguinte texto publicitário.
[a] Les hommes aiment les femmes [b] qui ont les mains douces. [c] Vous le savez. [d] Mais vous savez aussi que vous faites la vaisselle. [f] Alors ne renoncez pas pour autant
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à votre charme, [g] utilisez Mir rose. [h] Votre vaisselle sera propre et brillante. [i] Et vos mains, grâce à l’extrait de pétale de rose contenu dans Mir Rose, seront plus douces et plus belles. [j] Elles ne pourront que vous dire Merci. Votre mari aussi. Em sua análise Adam (1997) propõem que em “os homens apreciam as mulheres que
têm mãos suaves” temos a primeira premissa, ou o primeiro dado. A inferência aparece expressa em [c]: “você sabe disso”, o que subentende que se quer ter as mãos suaves como todas as mulheres para agradar os homens. Nesse caso, há outra inferência que seria dizer que “todas as mulheres gostam de agradar os homens”. Entretanto, caso essa inferência fosse posta em questão, toda a argumentação seria contestável. O conectivo “mas” introduz uma restrição [d] suscetível de bloquear a conclusão “tenha então mãos suaves”. Esta conclusão dá ao mesmo tempo uma segunda premissa: você sabe também que lava frequentemente a louça. Esta segunda premissa provoca novas inferências implícitas: suas mãos não ficaram suaves e os homens provavelmente não gostaram. Mas a esse argumento se aplica uma restrição [f]: “Alors ne renoncez pas pour autant à votre charme”, quer dizer “você pode conservar seu charme » que leva automaticamente a conclusão [g] “se você utilizar Mir Rose”.
A nova tese no futuro é que com Mir Rose “sua louça será limpa e brilhante” e suas
“mãos mais suaves e belas” e por fim a conclusão que “seu marido vai gostar”. A tese anterior que aparece no esquema de Adam no caso dessa publicidade está implícita. “sua louça não é nem limpa, nem brilhante e sua mãos não são suaves”. Contudo, se essa frase fosse dita no início da propaganda os alocutários não se interessariam, pois não se sentiriam identificados.
A sequência argumentativa de Adam apresentada acima se mostrou interessante
quanta a ser uma ferramenta de análise para textos publicitários, ou até mesmo a ser empregada no ensino de uma forma geral. Os pontos de vista expressos a respeito da forma como os elementos podem ser organizados para se chegar ou se produzir uma determinada conclusão, do ponto de vista publicitário, tornam o esquema ainda mais importante e aliado à noção de topos ainda mais completo. Assim, dizer que a argumentação pode ser determinada pelo enunciado em razão de um topos, afigura-se como interessante nesse momento em que os dois autores parecem se completar ao passo que Adam não deixa bem claro como os dados permitem chegar a uma conclusão, marcando esse fato pelas inferências.
3. Analise e discussão de texto argumentativo
O corpus de análise contou com um artigo publicado na revista Super Interessante,
julho 2008, “Para todas as idades”. Outros fatores argumentativos que acabam por delinear a matéria e aproximá-la do público ao qual se destina serão deixados para outro momento quando e com fundamentos teóricos necessários para este fim, como título da seção (SNOVAS) em que o artigo aparece, assim como a chamada da matéria “Ah moleque!” e imagens icônicas que indiretamente trazem inferências ao conteúdo da matéria.
De um ponto de vista geral, pode-se dizer que o texto é predominantemente
argumentativa, subdividido em dois momentos: um relativo aos aspectos referentes ao Viagra e outro ao do Botox.
Anais do IX Encontro do CELSUL Palhoça, SC, out. 2010 Universidade do Sul de Santa Catarina Para todas as idades
Médicos começam a receitar Viagra e Botox para crianças; mas não como você pensa
Para que servem o Viagra e o Botox? Acabar com a impotência sexual dos homens e disfarçar as rugas que tanto incomodam as mulheres? Sim, mas não só isso: eles também podem salvar vidas. Como a do menino inglês Oliver Sherwood, de 2 anos, que toma Viagra todos os dias. Ele tem uma doença rara, chamada hipertensão pulmonar, que compromete o sistema cardiovascular e pode levar à morte. O sildenafil (princípio ativo do Viagra) dilata as veias do organismo – o que, além de ajudar homens impotentes a ter ereções, também reduz a pressão sanguínea dentro dos pulmões de Oliver.
A idéia pode parecer maluca, mas não é: existe um estudo clínico que comprova a eficácia. Oliver está tomando Viagra (que no Reino Unido se chama Revatio) há aproximadamente 6 meses. E passa bem. “Quando vou buscar o remédio, eu rio e penso: para certas pessoas [homens impotentes], isso seria um verdadeiro presente de Natal”, disse à imprensa inglesa a mãe de Oliver, a enfermeira Sarah Sherwood.
Segundo ela, a saúde do menino melhorou de forma “fantástica”. Como Oliver toma uma dose baixa (são 20 miligramas diários divididos em 4 doses, bem menos do que os 50 miligramas indicados para adultos), não tem sentido “efeitos colaterais” – pelo menos não os de ordem sexual.
O consertador de madames Botox é outro remédio adulto que está chegando às mãos da garotada; no caso, crianças afetadas pela chamada síndrome de Charge. Trata-se de uma doença genética que afeta vários órgãos, incluindo o coração e os olhos. A glândula salivar também é atacada, e passa a produzir saliva em excesso – que pode ir parar nos pulmões e matar por asfixia. Uma criança que tinha Charge iria precisar de uma traqueostomia (abertura de um buraco na traquéia) para não se afogar na própria saliva. Mas o médico britânico Sam Daniel teve a idéia de injetar toxina botulínica, princípio ativo do Botox, para paralisar as glândulas salivares do paciente.
Funcionou: a toxina impediu o funcionamento anormal da glândula. E, após mais algumas aplicações de Botox, a criança ficou definitivamente curada. Depois dessa experiência bem-sucedida, Daniel já realizou com sucesso mais de 1 000 aplicações de Botox em crianças pequenas.
(OSSE, José Sérgio. Para todas as idades. In: Super Interessante, Ed. Abril, n. 253, jun/2008, p.25)
Já com o título do artigo “Para todas as idades” o texto deixa em aberto e para o
subtítulo o objeto que complementa a proposição dada “médicos começam a receitar Viagra e Botox para crianças; mas não como você pensa”. Nesse artigo, seguindo o exemplo de protótipo da sequência argumentativa de Adam (1997), a tese anterior ficaria por conta da mensagem que aparece implícita e ligada ao uso (adulto) de Viagra e Botox para resolução de disfunções sexuais e questões estéticas. A geração maior de inferências ficaria por conta da proposição do subtítulo de que os medicamentos agora seriam receitados para crianças. Para barrar a conclusão esperada dos fins serem os mesmos das indicações para o adulto, o locutor lança mão de uma segunda proposição iniciada com o conectivo adversativo “mas” que gera a
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inferência que todos os leitores concluiriam (por conhecerem as indicações dos produtos) que os medicamentos estariam sendo usados para os fins aos quais foram desenvolvidos.
As intenções discursivas propostas nos enunciados apresentados no título e subtítulo
predefinem um público já conhecedor dos medicamentos e excluiriam a existência de indivíduos que poderiam não conhecer os produtos. Contudo, apesar dessas informações aparecerem em destaque, a tese implícita e explicitada no início da matéria em que o locutor questiona suas indicações como se fossem óbvias ao seu interlocutor e indica logo após sua resposta. Novamente, em seguida, há uma proposição que leva a outra inferência também marcada pelo conectivo “mas”, “mas não só isso” e outra proposição “eles podem salvar vidas”. Após apresentar dados sobre a proposição “eles podem salvar vidas”, outra inferência que também bloqueia uma conclusão com o adversativo “mas” – “A idéia pode parecer maluca, mas não é” e em seguida mais dados sobre essa proposição, sempre contrapondo com as indicações do remédio contra a impotência – “Oliver toma uma dose baixa”; “não tem sentido ‘efeitos colaterais’” e outra inferência sobre os efeitos colaterais creditados e outra proposição “pelo menos não os de ordem sexual” como se dissesse implicitamente “como você deve ter pensado” em referência a primeira inferência no subtítulo da matéria.
Na segunda parte do artigo apresenta os dados relativos ao Botox. Logo no início um
novo dado “consertador de madames” que leva a inferência de ser um produto utilizado por pessoas com alto poder aquisitivo e fins não tão necessários e outra inferência, apresentar agora maior utilidade – “é outro produto que está chegando às mãos da garotada”. Em seguida traz os dados relativos às propriedades terapêuticas da toxina. Por fim, leva à conclusão, ou à tese final, trazendo um novo dado, o número de aplicações bem sucedidas com a utilização do medicamento. Esse último dado leva a uma nova tese “Viagra e Botox não são mais medicamentos que representam um tipo de utilização puramente estética ou sexual”.
4. Considerações finais
Como foi possível observar, o texto fica ancorado quase que completamente em dados
ou premissas que levam sempre a inferências que restringem conclusões relacionadas à primeira inferência “mas não como você pensa”, presente no subtítulo. A representação construída busca respaldo em conceitos prévios e provenientes de redes de ideias já muito conhecidas sobre os medicamentos que se tornaram populares nos últimos anos. O interlocutor é levado, entretanto, a uma conclusão prévia já no início do texto com o questionamento “para que servem o Viagra e o Botox?” em que a nova tese se constrói como um raciocínio lógico, “o Viagra e o Botox apresentam outras utilidades do que as conhecidas no senso comum”.
A credibilidade é construída com os inúmeros dados apresentados, inclusive
apresentação de outros locutores em primeira pessoa “Quando vou buscar o remédio, eu rio e penso: para certas pessoas [homens impotentes], isso seria um verdadeiro presente de Natal”. Nesse caso, até a inferência da fala da mãe de Oliver é restringida pelo locutor principal com a indicação de quem seriam “certas pessoas” (fala entre colchetes), impedindo, por exemplo, a conclusão de que poderiam ser não os “homens impotentes”, mas, por exemplo, as “esposas dos homens impotentes”. Esse último aspecto, talvez pelo artigo ser destinado a determinado público (jovens e adolescentes), ainda não necessariamente preparado para esse tipo de conclusão.
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Referências:
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